Amazonia Viva Santarém

6/23/2006

Mulheres protestam contra Cargill


A Associação das Mulheres Domésticas de Santarém, que faz parte do movimento popular, Frente em Defesa da Amazônia, pretende registrar um BO (Boletim de Ocorrência) na Polícia Civil contra o abuso de autoridade da PM ocorrido durante manifestação pacífica de um pequeno grupo na reinauguração da biblioteca municipal Paulo Rodrigues dos Santos, evento realizado ontem.

Segundo a presidente da associação, Tânia Maria, a manifestação do grupo foi pacífica, com único objetivo de abrir uma faixa repudiando o que considera "migalha" oferecida pela multinacional Cargil em parceria com a prefeitura.

Estando condenada pela Justiça Federal por ausência de EIA-RIMA em seu porto privado, a empresa tenta limpar sua imagem doando uma biblioteca ao município.A facilidade da prefeitura em aceitar o presentinho causou o manifesto do grupo, que não aceita o que chama de "espelhinho", referência ao que os portugueses ofereciam aos índios em troca do pau-brasil que levavam a Portugal.

IncômodoA faixa com os dizeres “O lucro do crime também dá migalhas” causou incômodo ao secretário municipal de Governo, Inácio Correa, que chamou a polícia para retirar os manifestantes do evento.No momento em que o grupo abriu a faixa, a polícia chegou e expulsou os manifestantes.

Judite Ribeiro Gama, também membro da associação, confirmou que a manifestação era pacífica, mas se sentiu agredida porque não houve diálogo.Ela identificou um membro da Capitania dos Portos chamado Jorge, que, segundo Judite, usou arbitrariamente a farda para intimidar os manifestantes.Judite Gama afirmou que anotou o nome de todos os policiais envolvidos na violência.

Inácio Correa justificou sua ação de chamar a polícia dizendo que "aquele não era o momento pra manifestação", embora tenha dito à reportagem que todos têm direito de se contrapor.

Fonte: Jornal da Manhã/Rádio Rural AM

Santarém 345 anos: enquanto a Cargill dava seu presente, protestos não faltaram.


Ontem, 22 de junho foi o aniversário da nossa querida cidade de Santarém, lugar que alguns ainda se orgulham de chamar, a pérola do Tapajós! Apesar de estar com o brilho meio apagado, o Santareno ficou procurando motivos pra comemorar. Ainda bem que teve jogo da seleção brasileira no mesmo dia, pra trazer um pouco mais de alegria.

Para orgulho de todos, na quarta-feira, dia 21, a Prefeitura Municipal de Santarém nos brindou com um show que acrescentou por demais a nossa cultura. Muita gente foi ver o show do Grupo Harmonia do Samba e o Xandi rebolar, enquanto artistas locais foram colocados para tocar hoje bem longe dos pontos principais da cidade.

Mas por falar em cultura, ainda bem que existe a bondosa e solidária Fundação Cargill Internacional, que inaugurou no aniversário da cidade, a nova Biblioteca Municipal com um excelente acervo de livros e acesso à Internet.

O presidente internacional da Fundação Cargill esteve na cidade. Com seu sotaque de americano discursou na cerimônia de inauguração. E todas as autoridades e alguns populares aplaudiram o homem. Ei, espera aí! Esse cidadão não é americano? Não deu pra entender porque a maioria dos carros estacionados no local do evento tinham a propaganda “Fora Greenpeace” (leia-se: fora estrangeiros, fora gringos), mas no caso da Cargill não tem problema, são todos boa gente.

Mas teve santarenos que foram lá protestar. Integrantes da Frente de Defesa da Amazônia estavam lá vestidos de roupas pretas, de luto, com faixas que diziam: financiado com dinheiro sujo de crime ambiental! É claro que a polícia tratou de retirar os manifestantes à força do local.

Depois dessa esmola dada pela Cargill no aniversário de nossa cidade, só está faltando o mais novo projeto de responsabilidade social da empresa em Santarém, a distribuição de leite de soja para as nossas crianças nas escolas.

E assim a poderosa multinacional norteamericana tenta se fortalecer na cidade, oferecendo presentinhos que para encapar de bondade sua predatória investida na região, querendo ser gente da casa.

Sob pressão, Cargill admite que vai assinar pacto contra escravidão

Iberê Thenório

Esta terça-feira não foi um dia fácil para o presidente da Cargill no Brasil, Sérgio Barroso. Convidado pelo Instituto Ethos para ser um dos palestrantes da Conferência Internacional 2006 - Empresas e Responsabilidade Social, que começou nesta segunda-feira (19), em São Paulo, ele se viu em uma situação constrangedora durante a mesa redonda cujo tema era "Desmatamento da Amazônia - como é possível evitar?". Justamente o calcanhar de Aquiles da Cargill.

Ao contrário dos colegas de mesa (como Sérgio Amoroso, do Grupo Jari-Orsa, e Maurício Reis, da Companhia Vale do Rio Doce) o empresário da soja começou a palestra sem nenhum case para apresentar. Utilizou seus 20 minutos de fala para defender o agronegócio e a utilização do transporte fluvial no Brasil (leia-se: defender o porto construído pela empresa em Santarém/PA, que corre o risco de ser embargado por falta de licença ambiental). Barroso também mostrou um mapa das plantações de soja no país, tentando mostrar que a cultura do grão praticamente não afetava esse ecossistema.
No final da palestra, entre as medidas que citou para proteger a região, o presidente da Cargill ressaltou a importância de "observar" a assinatura do Pacto Nacional pela Erradicação do Trabalho Escravo, organizado pelo Instituto Ethos e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), em que empresas se comprometem a manter sua cadeia produtiva longe do trabalho escravo. O detalhe é que a Cargill não havia assinado o documento.
Pesquisas, com a da ONG Greenpeace, identificaram que a empresa comprava soja de fazendas que estão na "lista suja" do trabalho escravo. Organizada pelo governo federal, essa relação divulga as propriedades comprovadamante flagradas cometendo esse crime. As suas concorrentes ADM, Amaggi e Bunge também demostraram o mesmo problema em suas cadeias produtivas. A Amaggi e a Bunge assinaram o Pacto.
A maior saia-justa da Cargill veio quando subiu ao púlpito Eugênio Scannavino, do Projeto Saúde e Alegria, que atua junto a comunidades extrativistas da Amazônia. Ele apresentou à platéia uma reportagem do programa Fantástico, da Rede Globo, que mostrava a devastação da Amazônia causada pela soja e o pé-de-guerra instalado no Pará quando a ONG Greenpeace tentou bloquear o porto de Santarém, em protesto contra o comportamento da Cargill. Pela primeira vez na mesa redonda, o auditório lotado, com mais de mil pessoas e formado principalmente por empresários (e não por "ambientalistas xiitas"), aplaudiu em pé. Scannavino, em sua palestra, afirmou que a população da Amazônia não precisa da soja para se desenvolver e sim da floresta, da qual já sobrevive.
Como Sérgio Barroso já havia avisado que sairia mais cedo, como é de praxe quando grandes empresários envolvidos em polêmicas participam de debates, Oded Grajew, mediador do evento e presidente do Conselho Deliberativo do Ethos, resolveu modificar o programa do evento. E abriu um espaço para que Barroso - cujo rosto já passava do vermelho ao roxo - pudesse responder às críticas.
Três pessoas fizeram a mesma pergunta: por que a Cargill não assinou o Pacto contra o trabalho escravo? Barroso explicou que a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), da qual sua empresa faz parte, já havia assinado, mas, se fosse necessário, a Cargill também poderia assinar individualmente. Questionado após a palestra, Sérgio Barroso finalmente cedeu à pressão da sociedade civil. "Sim, nós vamos assinar o pacto."
A empresa, uma das maiores de capital fechado do mundo, agora poderá ter suas atividades monitoradas. O que, é claro, não irá resolver os problemas causados pelo impacto da expansão da soja na Amazônia, da qual a gigante norte-americana é um dos atores principais. Mas já é um alento para a floresta e seus moradores.

http://www.24horasnews.com.br/index.php?mat=181849

6/20/2006

Frente a frente: ambientalista e presidente da Cargill em Conferência Internacional

Fábio Pena

O papel da empresa socialmente responsável na sociedade sustentável foi o tema da Conferência Internacional que está sendo promovida desde o dia 19 de junho pelo Instituto Ethos em São Paulo. O Instituto Ethos é uma organização criada com a missão de mobilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável. A Conferência deste ano conta com atividades voltadas para aprofundar a discussão sobre desenvolvimento humano, ética, relações de trabalho, meio ambiente e consumo, entre outros.

Entre os principais debates do evento, aconteceu hoje, dia 20, uma mesa redonda com o tema: Desmatamento da Amazônia - como é possível evitar? A proposta foi debater se há equilíbrio possível entre desenvolvimento de atividades de alto impacto sobre a floresta (pecuária, mineração e agricultura) e o desenvolvimento socioambiental da região amazônica.

Para Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, “a decisão de incluir o tema da Amazônia vem do reconhecimento da importância que tem a região para o Brasil e para o mundo, não apenas como uma grande reserva natural, mas também pelos problemas sociais que nos deparamos hoje. Se as coisas continuarem como estão, entraremos em um colapso socioambiental que afetará a todos” afirmou.

Oded moderou a mesa que contou com a participação de palestrantes como: Sergio Amoroso, presidente do Grupo Jari-Orsa; Sergio Alair Barroso, presidente da Cargill Agrícola S/A.; Maurício Reis, diretor do Departamento de Gestão Ambiental e Territorial da Vale do Rio Doce; Eugenio Scannavino Netto, coordenador-geral do Ceaps/ Projeto Saúde e Alegria; João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas, do Ministério do Meio Ambiente.
Sérgio Alair Barroso, Presidente da Multinacional Cargill no Brasil, fez um discurso amplo abordando o potencial do agronegócio para a economia brasileira. Em relação à Amazônia ressaltou que “o código florestal brasileiro é um dos mais rígidos do mundo e as leis têm que ser respeitadas... A soja na Amazônia tem pouca participação no desmatamento da floresta na região”, afirmou.

O discurso genérico e politicamente correto do presidente da multinacional parecia não incluir o problema que está acontecendo na região do Oeste do Pará, especialmente em Santarém e Belterra, onde a Cargill mantém um porto implantado de maneira ilegal, mantendo-se com base em liminares na justiça.

O problema veio à tona quando na palestra sucessiva, Eugênio Netto, do Projeto Saúde e Alegria, ONG que atua na Amazônia desde 1987 em comunidades de Santarém e Belterra, apresentou a outra versão sobre a questão do agronegócio da soja na região.

Antes que Sérgio Barroso se retirasse do recinto alegando outros compromissos, Eugênio começou sua palestra apresentando o vídeo com a reportagem exibida pelo Fantástico que mostra como “a soja está comendo a amazônia”, entre os conflitos e a ação violenta dos produtores de soja amparados pela Cargill em Santarém.

Incomodado, o Presidente da Cargill ouviu a palestra de Eugênio, que prosseguiu contextualizando os problemas, apresentando dados e imagens contundentes do efeito predatório da soja na região, e os possíveis caminhos que estão sendo encontrados para desenvolver sem prejudicar o meio ambiente. “A população da Amazônia está cansada de soluções que vem de fora, as comunidades sabem proteger a floresta. Onde tem comunidade tradicional, a floresta está conservada. Eles são os verdadeiros donos da Amazônia” disse Eugênio.

O público presente, formado por presidentes, vice-presidentes, superintendentes, diretores de empresas dos setores privado e público, executivos, lideranças dos movimentos sociais, e importantes formadores de opinião, aplaudiram de pé a apresentação de Eugênio.

E quanto à pergunta: desmatamento na Amazônia - é possível evitar?

O presidente da Cargill manifestou a intenção da multinacional de rever a sua atuação na região do Oeste do Pará, principalmente em Santarém, onde os conflitos são mais agudos e a rejeição à soja é mais clara.

Na opinião de Eugênio, o que os movimentos sociais e comunidades da região estão dizendo é muito claro, uma posição contrária à produção de soja no bioma amazônico, visto todas as conseqüências ambientais e o insignificante retorno social para a população local. “O que está faltando é investimento em alternativas que respeitem a vocação natural da Amazônia para o desenvolvimento sustentável”, afirmou Eugênio.

Mais informações:

http://www.ethos.org.br/ci2006/default.asp

6/12/2006

Fantástico exibe matéria sobre caso da soja em Santarém


A guerra da soja

Os repórteres do Fantástico chegam a um território marcado por conflitos, ameaças de morte e tensão por todos os lados. É uma região em pé de guerra - um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.

No Brasil, uma cidade está em guerra. E pouca gente sabe... Santarém fica no coração da floresta, no encontro dos rios Amazonas e Tapajós. A cidade de 300 mil habitantes está no centro de uma disputa feroz.

De um lado, fazendeiros vindos de outros estados do país, principalmente Rio Grande do Sul e Paraná. Eles querem usar as amplas terras ao redor da cidade para plantar soja. "Alimentar o país" é o lema deste grupo.

“A gente acha que a soja é mais um produto, digamos assim, que vem somar ao desenvolvimento da região”, defende Adinor Batista, presidente do sindicato rural.

Do outro lado, ecologistas, Igreja Católica e os moradores antigos da região. O objetivo deles é desenvolver sem agredir a Amazônia.

“Quando a gente diz que na Amazônia a impunidade mata e desmata, é porque mata a irmã Dorothy, mata líderes sindicais e desmata a floresta”, argumenta padre Edilberto Senna.

Mas os dois lados obviamente não se entendem. E a impunidade é a regra nesta região. Em primeiro lugar, toda a terra no oeste do Pará está sob disputa. O governo diz que as terras pertencem à União. Os fazendeiros retrucam: eles tentam regularizar a posse, mas o Incra não permite.

“Por um lado, você briga para que seja documentada, regularizada a situação fundiária. E não acontece. Aí, você vai trabalhar na clandestinidade”, justifica um fazendeiro.

E já que a terra não tem dono, quem chegou primeiro desmata e planta. O Ibama é o órgão federal que deveria monitorar o uso da terra. Oficialmente, tudo vai bem.

“Nós temos um corpo de servidores, que são os fiscais ambientais, que fazem essa fiscalização normal de rotina”, declara Huyghens Caetano, diretor do Ibama em Santarém.

Mas, em uma conversa informal, o diretor do Ibama em Santarém diz que a história é outra.
Fantástico: Eles estão cortando floresta primária?

Huyghens Caetano: Já cortaram muito aí, né?

O Ibama tem 88 servidores na cidade. Mas quantos efetivamente vão para o meio do mato?

Fantástico: Uns 20?

Huyghens Caetano: É, uns 20.

O diretor do Ibama, que deveria fiscalizar os fazendeiros da região, sente-se pressionado...
Fantástico: A plantação de soja é boa ou ruim para a região?

Huyghens Caetano: Eu queria me limitar mais ao lado florestal...

E os que plantam ilegalmente comemoram. “Enquanto o cara que quer entrar legal não consegue, o irregular está lá lucrando”, afirma Caetano.

“Eu não sei como, em uma região com tanto desmatamento, eu só tenho duas prisões das quais falar para você”, constrange-se o procurador da República Renato Gomes.

Um dos presos é José Donizetti Pires de Oliveira, um dos maiores proprietários de terra da região. Em março, uma blitz do Ibama encontrou as terras de Donizetti completamente devastadas. O fazendeiro foi multado.

Moradores da região, com o apoio do grupo ecológico Greenpeace, entraram nas plantações de Donizetti e abriram uma enorme faixa, com os dizeres “100% crime”.

Ele não levou o protesto com bom humor. Primeiro, tentou arrancar a faixa, com golpes de faca e de caminhonete, e depois partiu para cima dos manifestantes. Seu caso é igual a dezenas de outros.

Fantástico: O senhor não destruiu a floresta lá?

Donizetti: Não... Não é crime, desmatar não é crime.

O argumento de Donizetti e dos fazendeiros da região é simples: soja é igual a desenvolvimento. E desenvolvimento traz riqueza. Mas o dinheiro nunca chegou para os comunitários, pessoas que moram há anos na floresta.

“Isso só serve para eles, porque na verdade não fica nada no município, tudo é exportado”, denuncia Francisca da Costa, do sindicato dos trabalhadores rurais.

A comunidade de Jenipapo, a menos de uma hora de Santarém, está desaparecendo. A escola local já não funciona mais todos os dias, por falta de alunos.

“Essa comunidade tinha 68 famílias. Hoje tem 13. E essas 13 são pessoas que botaram o pé na parede e falaram: ‘Não vamos vender nossa terra, não vamos sair’. A pretensão deles é fazer tudo campo de soja”, conta o comunitário Hilton de Oliveira.

Basta olhar a região de cima, a 300 metros de altura, para ver o tamanho real do problema. Segundo imagens de satélite, em 2004 e 2005, 1,2 milhão de hectares de floresta viraram plantações de soja. Cada hectare tem mais ou menos o tamanho de um campo de futebol. Ou seja, em dois anos, a área cultivada pela soja passou de um milhão de campos de futebol. E para onde vai toda essa soja plantada no coração da floresta?

“A nossa soja está alimentando a vaca da Europa. A vaca da Europa é confinada e ela come soja brasileira”, alerta Paulo Adário, do Greenpeace.

Um porto em Santarém, no meio da floresta amazônica, é o lado mais visível do poder da soja no norte do Brasil. Ele foi construído por uma empresa norte-americana para facilitar o transporte de milhões de toneladas do produto para o mercado consumidor, a Europa. A própria existência do porto da Cargill é contestada na Justiça.

“A construção do porto se deu de forma juridicamente precária. Foi baseado em liminares”, adverte o procurador.

A guerra da Soja

E de liminar em liminar - sem um estudo de impacto ambiental federal - o porto de US$ 20 milhões ajudou a expandir a fronteira da soja da Amazônia.

Há duas semanas, ecologistas do Greenpeace tentaram bloquear um carregamento de soja, para chamar a atenção para a destruição da floresta. Os seguranças da empresa impediram a ação. A Polícia Federal foi chamada. Um agente sacou a arma e ameaçou os ativistas.

Logo depois, proprietários rurais invadiram o barco do Greenpeace e promoveram um quebra-quebra. Resultado da confusão: quatro feridos, 14 pessoas presas - todas manifestantes, nenhum fazendeiro.

Enquanto o governo apenas observa, a cidade se prepara para a próxima batalha. E a floresta? Em silêncio ela vai desaparecendo para sempre.

Para assistir:
http://gmc.globo.com/GMC/0,,2465-p-M479633,00.html

6/01/2006

Ministério Público Federal entra no caso de ameaça de morte a Padres de Santarém

SOJA: Sacerdotes com atuação em Santarém estariam marcados para morrer por serem contra a expansão dos pólos sojeiros
Jornal Diário do Pará

Ministério Público Federal e a Ordem dos Advogados do Brasil, seção Pará, entraram ontem (31) no caso dos dois padres e ambientalistas de Santarém que estão sendo ameaçados de morte em um site de relacionamentos da Internet. Edilberto Sena, diretor da Rádio Rural AM, ganhador do prêmio José Carlos Castro da OAB em 2005, e José Boeing, presidente da Comissão de Direitos Humanos da Subseção de Santarém e pároco da Igreja de São Raimundo Nonato, estiveram até a manhã de terça-feira (30) sendo alvo de ameaças de morte por fazerem oposição à expansão da soja na região.

O procurador federal Renato Resende, de Santarém, protocolou ontem na Polícia Federal, o pedido de instalação de inquérito policial federal para investigar os criadores da comunidade “Fora Greenpeace...” do site de relacionamentos Orkut. “Queremos saber quem são as verdadeiras pessoas por trás das ameaças, que certamente não deve se resumir ao jovem citado na página”, disse o procurador chefe Felício Pontes, que não pôde dar maiores detalhes devido o caso ser impetrado por Renato Resende.O pedido partiu das vítimas que procuraram o Ministério Público Federal na cidade de Santarém na tarde de ontem para acionar a Polícia Federal e ingressar com ação por danos morais. Eles apontaram como criador da comunidade Dé Neumann, identificado na página como Derick Figueira.

Ainda no início da noite de ontem, Felício Pontes contatou a OAB-PA, que imediatamente começou a redigir um pedido de garantia de vida aos padres que foi enviado por fax ao governador do Estado, Simão Jatene, ao secretário de Proteção Social, Manoel Santino, ao delegado geral da Polícia Civil, Luís Fernandes, e ao superintendente da Polícia Federal, José Sales. “Não queremos entrar no mérito da questão (conflito entre os ambientalistas e os sojeiros), mas essa situação polarizando está se tornando perigosa demais. Por isso, devemos cobrar das autoridades repressão à esses conflitos”, explicou Ophir Cavalcante, presidente da OAB-PA. Ainda segundo Felício Pontes, se os acusados forem responsabilizados e encontrados, poderão responder criminalmente por crime de incitação à violência e ameaça de morte.

Na semana passada, o Navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, ancorou em Santarém para promover uma série de protestos contra o aumento da exploração da soja na Amazônia. Os ambientalistas chegaram a interditar o porto da Cargil com a embarcação, rebocada posteriormente pela Marinha, e a confrontar com os funcionários da empresa e populares que também protestavam contra as ações da ONG internacional na cidade. Na ocasião, três ambientalistas ficaram feridos, e 17 foram detidos pela polícia, mas liberados em seguida.

OAB-PA pede garantia de vida a ambientalistas ameaçados no Orkut

Notícia Publicada no site da OAB Pará

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Seção Pará, Ophir Cavalcante Junior, solicitou ao Governo do Estado a garantia de vida dos religiosos Edilberto Sena e José Boing, atuantes na defesa do meio ambiente e contra a expansão da soja na região oeste do Estado. Eles foram publicamente ameaçados de morte na rede de relacionamento Orkut, na Internet, na comunidade denominada “Fora Greenpeace”, na qual um dos tópicos encerra com a mensagem: "Matem o Edilberto Sena e o Padre Boing pelo bem de Santarém”. Boing é pároco da Igreja de São Raimundo Nonato e foi premiado este ano com o Prêmio José Carlos Castro de Direitos Humanos, da OAB-PA, concedido a personalidades que atuam na defesa de minorias; e Sena, além de padre, é também advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Subseção da OAB-PA em Santarém e diretor da Rádio Rural FM.

O pedido partiu das vítimas, que procuraram o Ministério Público Federal na cidade de Santarém, no último dia 30, para acionar a Polícia Federal e ingressar com ação por danos morais. Na ocasião, os religiosos apontaram Dé Neumann, identificado na página como Derick Figueira, como criador da comunidade. O MPF solicitou à PF abertura de inquérito policial para apurar a origem da notícia, e responsabilizar criminalmente os autores, e contatou a OAB-PA para que solicitasse garantia de vida aos ameaçados. “Não queremos entrar no mérito da questão (conflito entre ambientalistas e sojeiros), mas essa situação polarizada está se tornando perigosa demais. Por isso, devemos cobrar das autoriaddes repressão a esses conflitos”, argumenta Ophir Junior.

Na semana passada, o Navio Arctic Sunrise, do Greenpeace, aportou em Santarém para promover uma série de protestos contra o aumento da exploração da soja na Amazônia. Os ambientalistas chegaram a interditar o porto local e houve confronto entre os ambientalistas e pessoas que protestavam contra as ações da Ong internacional no município.

Ambientalistas são ameaçados de morte no Pará


Em Santarém (PA), a disputa acirrada entre o movimento socioambiental e o setor do agronegócio resultou em ameaças de morte a ambientalistas, publicadas no site de relacionamentos Orkut por apoiadores dos sojeiros da região. O padre Edilberto Sena (foto) é um dos ameaçados.

Natalia Suzuki - Agência Carta Maior

SÃO PAULO – Nas últimas semanas, os embates entre o movimento socioambiental e o setor do agronegócio produtor de soja no Pará, mais epecificamente na região de Santarém, tem se acirrado por conta de uma série de protestos e manifestações de ambas as partes. A polarização de opiniões acabou em ameaças de morte ao padre Edilberto Sena, coordenador da rádio Rural e membro da Frente de Defesa pela Amazônia, e José Boeing, advogado e pároco da igreja São Francisco, publicadas no site de relacionamentos Orkut por Derick Figueira, um jovem de Santarém, membro da comunidade do Orkut “Fora Greenpeace”.

O grupo que defende a expansão da soja no Pará criou recentemente o movimento “Fora Greenpeace” em função da série de atividades contra o desmatamento, desenvolvidas pela ONG em Santarém este mês, e repudia as ações da organização na região por considerar que ela é não é brasileira. Sena e Boeing, lideranças sociais locais, foram enquadrados na categoria de aliados do Greenpeace por esse setor.

O padre Sena afirma que mesmo não tendo recebido diretamente as ameaças de morte, como precaução dará queixa na Polícia Federal e alertará o procurador do Ministério Público Federal, Felipe Fritz Braga, sobre a mensagem do Orkut, alegando incitação à violência. De acordo com o Código Penal Brasileiro, “incitar, publicamente, a prática de crime” (artigo 286) e “fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de autor de crime” (artigo 287) pode levar a pessoa à pena de detenção de três a seis meses ou de multa.Sena lembra que, quando ganhou o prêmio de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados Brasileiros), o movimento ambientalista e a mídia temeram que podia ocorrer com ele o que houve com a missionária norte-americana Dorothy Stang, que havia ganhado a edição anterior do mesmo prêmio e foi assassinada meses depois, em fevereiro de 2005.

Mesmo com a ameaça, o padre garante que vai continuar lutando por “um desenvolvimento para a melhoria de vida para a população de Santarém. O agronegócio da soja ampliou o Produto Interno Bruto do Estado, mas isso [riqueza] não tem aparecido na região”. Após a repercussão que a mensagem teve na mídia local, Derick a retirou da Internet, mas um blog regional (http://www.jesocarneiro.blogspot.com) a registrou.Com erros de português, o texto, postado no Orkut no dia 25 deste mês, diz: “Fiquem espertos; o Green Peace disse que vai voltar a protestar com a Cargill... Então meus amigos vamos mobilizar dinhiro para que quando eles tentarem invadir o porto da cargill; vamos alugar lanchas e embarcações e vamos atirar bombas contra o navio deles sem medo de sermos presos; Estamos defendendo o que é nosso; defendendo nossa pátria conta a Invasão estrangeira. E Se você amigo tiver a oportunidade de pegar um ativista na rua; bata, mais bata até a morte; pode ser homem ou mulher; bata pra matar; pois quando um morrer; ai sim eles vao ver de quem é A AMAZONIA!!! Obrigado rota 5 por descer a ripa nessas ongs de fachada! Obrigado Osvaldo de Andrade por também defender os sojicultores! Matem o Edilberto Senna e o PADRE BOING pelo BEM DE SANTAREM!!!!”

Entendendo mais sobre o "Fora Greenpeace"

Quando cheguei em Santarém em Janeiro de 2005 aos poucos, fui percebendo as diferenças e semelhanças do lugar de onde vinha. Caipira. Sim, sou um caipira com muito orgulho e penso que os ribeirinhos da região compartilham do mesmo sentimento. O mesmo se estende aos quilombolas e índios das diversas etnias que ocupam a Amazônia.
A primeira informação que recebi de Santarém, era que haviam três símbolos associados às pessoas bem sucedidas: possuir uma farmácia (ou um imenso plantio de soja), uma Hi Lux e uma loira (bem bonita, obviamente) para desfilar pela orla no banco de passageiros ao lado do dono (do carro). A impressão que fica desta observação é que uma propriedade leva à outra.
Esses símbolos ainda hoje transitam pela cidade e parecem possuir no inconsciente coletivo uma forte noção de status para quem os exibe à imensa maioria dos pobres mortais que se deslocam pela cidade a pé, de bicicleta, ou na melhor das hipóteses de ônibus, ou, melhor ainda, na garupa de um moto táxi (clandestino ou não). Símbolos como esses são importantes, pois sugerem um valor compartilhado socialmente, indiferente se as pessoas, no caso em questão, possuem efetivamente tais objetos.
De imediato, e na condição de ser humano que respeita a sua espécie, não quero ferir ou inferir juízo de valor a ninguém, mas, a princípio, esses símbolos também me sugerem uma postura e afirmação extremamente machista, a qual tenho nada que compartilhar...
Distante alguns meses de Santarém, ao retornar, fiquei a par de uma propaganda que se espalhou pela cidade como um rastilho de pólvora: FORA GREENPEACE. AMAZÔNIA É DOS BRASILEIROS. A primeira informação sobre este slogan, coincidentemente, era que o mesmo começou a circular pela cidade afixada em algumas HI LUX (as mesmas do comentário anterior).
Como esses veículos representam um símbolo invejado de prestígio, outros carros de menos valor simbólico e econômico, começaram a aderir à moda vigente. Era como se a pessoa em questão, proprietária de um veículo mais humilde, por meio da semelhança ínfima de um adesivo, se aproximasse mais do status invejado pela coletividade local.
Não possuo vínculo institucional com o Greenpeace, apenas sou um brasileiro apaixonado por Santarém e por uma escalabitana, e por isso retornei para cá. Como qualquer pessoa, sonho com a possibilidade de constituir família, ter filhos e etc. Enfim, um brasileiro com orgulho de sê-lo. Porém, na condição de cidadão, daqueles que acreditam que um mundo melhor é possível, é inevitável tecer alguns comentários adicionais sobre essa infeliz campanha que todo dia polui meus olhos e pensamentos.
Em primeiro lugar, ao afirmar, FORA GREENPEACE, cometem-se alguns erros (ou serão crimes?) pois, tal como assegura a redação de nossa Constituição Federal, de 05 de outubro de 1988, no Título II, Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, Capítulo I Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos, Art. 5º:
Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
I - Homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”.
O Greenpeace é uma instituição internacional com sede central na Holanda, mas possui associados em 43 países inclusive no Brasil, sendo assim, brasileiras e brasileiros afiliados nessa ONG, sentem-se como? Também internacional e com sede no Brasil, Santarém acolhe direta ou indiretamente a Cargill, a Toyota (aquela que faz as HI LUX), a Wolkswagem, a FIAT, a Panasonic e a Olympus (algumas pessoas adoram quebrar câmeras de vídeo e máquinas fotográficas alheias) a Vale do Rio Doce (outrora verde e amarela, mas vendida para o capital estrangeiro) e etc. Mas prossigamos com a nossa constituição...
“II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”. A sugestão FORA GREENPEACE possui respaldo constitucional? Ao que me consta, não.
“III - ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
Quanto de cordialidade existe no imperativo FORA GREENPEACE? Mais adiante observamos no mesmo capítulo o seguinte:
XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”.
Qualquer pessoa com qualificação adequada, ou seja, brasileiras e brasileiros podem sim trabalhar em qualquer lugar do país, inclusive em Santarém, inclusive no GREENPEACE.
Para concluir essa primeira parte das observações, a máxima que se refere ao FORA GREENPEACE, fere o seguinte termo:
XV - é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens”.
A propósito, a palavra Greenpeace, traduzida, seria algo como “Paz Verde”. Por acreditar que esse item é auto-explicativo, dispenso maiores comentários e passo para a segunda parte da infeliz campanha que circula por automóveis, bicicletas, ou permanecem estáticos nas fachadas de algumas casas ou estabelecimentos comerciais: AMAZÔNIA É DOS BRASILEIROS.
Será mesmo? Meu professor de geografia da quinta série me ensinou que não. Segundo ele, a Amazônia, reconhecida como floresta com características marcadamente específicas, além de abranger o Estado do Pará também ocorre no Amazonas, Acre, Rondônia, Roraima, Tocantins, Mato Grosso (que com tanto desmatamento vem sendo chamado de mato fino), Maranhão e Amapá. Mas o que diriam nossos vizinhos fronteiriços da Guiana Francesa, Suriname, Guiana, Venezuela, Colômbia, Peru, Bolívia e Equador? Como será que pensam quando ouvem algum sojeiro, digo, brasileiro, dizer que a AMAZÔNIA É DOS BRASILEIROS?
Terá algum erro nessa frase além da falta do artigo feminino “a” que deveria precede-la? Será que existe algum interesse imperialista de dominação da região por parte desses que propagandeiam essa idéia? Mas quem são mesmo essas pessoas? A propósito, com exceção indireta daqueles que começaram a replicar essa seqüência trágica de erros embutidos num único adesivo, a pessoa ou grupo de pessoas que idealizaram, escreveram, pagaram para imprimir os adesivos numa gráfica e distribuí-los se esqueceram (além do artigo feminino “a”) de se apresentar ao grande público.
Será que é porque eles acham que os santarenos são todos índios, preguiçosos, incapazes de pensar? Esses cidadãos são insensíveis e julgam que não só os santarenos, mas toda a população amazônica é incapaz de constituir uma opinião própria favorável aos seus costumes e cultura secular envolvida com uma dinâmica super complexa de interação com a natureza, respeitando seu ritmo? Pois dizem: vamos trazer o desenvolvimento!
Na verdade querem é (des) envolver. Experiências anteriores de nossa história apontam que a estratégia dos grandes capitalistas para ampliar suas cifras consiste na retirada (leia-se expulsão) das pessoas desse convívio harmônico, impedindo que se envolvam com o tempo de plantar, de colher, de pescar, de caçar, enfim, de viver. O sonho com melhorias na produção, escoamento e comercialização da agricultura familiar não deve ser confundido com o pesadelo recorrente da expulsão de agricultores de suas terras para dar lugar a monocultura.
Esse adesivo elege um inimigo, no caso em questão, qualquer pessoa que participe do GREENPEACE e isso de forma bem explícita. Mas quem os fez, se esconde covardemente na sombra de algum pé de soja. Por que não assinam? O que temem? A nossa constituição ainda no mesmo capítulo citado anteriormente diz que:
IV -é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato”.
Gosto de debates, mais ainda de diálogos e espero ter contribuído com a reflexão desse tema. A permanência ou não de pessoas em Santarém bem que poderia ser inspirada em outro símbolo: O encontro das águas do Tapajós com o Amazonas. Esses rios são parte integrante da Amazônia e emprestam perpetuidade à vida daqueles que os margeiam. Qualquer pessoa ou instituição que prejudicar esses rios estará prejudicando a vida de todas as pessoas que vivem aqui, e a resposta da natureza não escolhe a quem. Convido a todos para uma reflexão: cessem com as agressões, desmatamentos, poluição e morte de pessoas e rios.
Seres humanos, rios e florestas são integrantes de um organismo chamado Planeta Terra. Tudo o que fazemos para a qualidade da vida no Planeta fazemos a nós mesmos. Que tal pensarmos em outro símbolo também? A proposta de adesivo já foi dada por alguém, e essa idéia eu assino embaixo: VIVA A VIDA VIVA!
Paulo J.C. Varalda - Cientista Social


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