Amazonia Viva Santarém

6/20/2006

Frente a frente: ambientalista e presidente da Cargill em Conferência Internacional

Fábio Pena

O papel da empresa socialmente responsável na sociedade sustentável foi o tema da Conferência Internacional que está sendo promovida desde o dia 19 de junho pelo Instituto Ethos em São Paulo. O Instituto Ethos é uma organização criada com a missão de mobilizar e ajudar as empresas a gerir seus negócios de forma socialmente responsável. A Conferência deste ano conta com atividades voltadas para aprofundar a discussão sobre desenvolvimento humano, ética, relações de trabalho, meio ambiente e consumo, entre outros.

Entre os principais debates do evento, aconteceu hoje, dia 20, uma mesa redonda com o tema: Desmatamento da Amazônia - como é possível evitar? A proposta foi debater se há equilíbrio possível entre desenvolvimento de atividades de alto impacto sobre a floresta (pecuária, mineração e agricultura) e o desenvolvimento socioambiental da região amazônica.

Para Oded Grajew, presidente do Conselho Deliberativo do Instituto Ethos, “a decisão de incluir o tema da Amazônia vem do reconhecimento da importância que tem a região para o Brasil e para o mundo, não apenas como uma grande reserva natural, mas também pelos problemas sociais que nos deparamos hoje. Se as coisas continuarem como estão, entraremos em um colapso socioambiental que afetará a todos” afirmou.

Oded moderou a mesa que contou com a participação de palestrantes como: Sergio Amoroso, presidente do Grupo Jari-Orsa; Sergio Alair Barroso, presidente da Cargill Agrícola S/A.; Maurício Reis, diretor do Departamento de Gestão Ambiental e Territorial da Vale do Rio Doce; Eugenio Scannavino Netto, coordenador-geral do Ceaps/ Projeto Saúde e Alegria; João Paulo Capobianco, secretário de Biodiversidade e Florestas, do Ministério do Meio Ambiente.
Sérgio Alair Barroso, Presidente da Multinacional Cargill no Brasil, fez um discurso amplo abordando o potencial do agronegócio para a economia brasileira. Em relação à Amazônia ressaltou que “o código florestal brasileiro é um dos mais rígidos do mundo e as leis têm que ser respeitadas... A soja na Amazônia tem pouca participação no desmatamento da floresta na região”, afirmou.

O discurso genérico e politicamente correto do presidente da multinacional parecia não incluir o problema que está acontecendo na região do Oeste do Pará, especialmente em Santarém e Belterra, onde a Cargill mantém um porto implantado de maneira ilegal, mantendo-se com base em liminares na justiça.

O problema veio à tona quando na palestra sucessiva, Eugênio Netto, do Projeto Saúde e Alegria, ONG que atua na Amazônia desde 1987 em comunidades de Santarém e Belterra, apresentou a outra versão sobre a questão do agronegócio da soja na região.

Antes que Sérgio Barroso se retirasse do recinto alegando outros compromissos, Eugênio começou sua palestra apresentando o vídeo com a reportagem exibida pelo Fantástico que mostra como “a soja está comendo a amazônia”, entre os conflitos e a ação violenta dos produtores de soja amparados pela Cargill em Santarém.

Incomodado, o Presidente da Cargill ouviu a palestra de Eugênio, que prosseguiu contextualizando os problemas, apresentando dados e imagens contundentes do efeito predatório da soja na região, e os possíveis caminhos que estão sendo encontrados para desenvolver sem prejudicar o meio ambiente. “A população da Amazônia está cansada de soluções que vem de fora, as comunidades sabem proteger a floresta. Onde tem comunidade tradicional, a floresta está conservada. Eles são os verdadeiros donos da Amazônia” disse Eugênio.

O público presente, formado por presidentes, vice-presidentes, superintendentes, diretores de empresas dos setores privado e público, executivos, lideranças dos movimentos sociais, e importantes formadores de opinião, aplaudiram de pé a apresentação de Eugênio.

E quanto à pergunta: desmatamento na Amazônia - é possível evitar?

O presidente da Cargill manifestou a intenção da multinacional de rever a sua atuação na região do Oeste do Pará, principalmente em Santarém, onde os conflitos são mais agudos e a rejeição à soja é mais clara.

Na opinião de Eugênio, o que os movimentos sociais e comunidades da região estão dizendo é muito claro, uma posição contrária à produção de soja no bioma amazônico, visto todas as conseqüências ambientais e o insignificante retorno social para a população local. “O que está faltando é investimento em alternativas que respeitem a vocação natural da Amazônia para o desenvolvimento sustentável”, afirmou Eugênio.

Mais informações:

http://www.ethos.org.br/ci2006/default.asp

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