Amazonia Viva Santarém

6/12/2006

Fantástico exibe matéria sobre caso da soja em Santarém


A guerra da soja

Os repórteres do Fantástico chegam a um território marcado por conflitos, ameaças de morte e tensão por todos os lados. É uma região em pé de guerra - um barril de pólvora que pode explodir a qualquer momento.

No Brasil, uma cidade está em guerra. E pouca gente sabe... Santarém fica no coração da floresta, no encontro dos rios Amazonas e Tapajós. A cidade de 300 mil habitantes está no centro de uma disputa feroz.

De um lado, fazendeiros vindos de outros estados do país, principalmente Rio Grande do Sul e Paraná. Eles querem usar as amplas terras ao redor da cidade para plantar soja. "Alimentar o país" é o lema deste grupo.

“A gente acha que a soja é mais um produto, digamos assim, que vem somar ao desenvolvimento da região”, defende Adinor Batista, presidente do sindicato rural.

Do outro lado, ecologistas, Igreja Católica e os moradores antigos da região. O objetivo deles é desenvolver sem agredir a Amazônia.

“Quando a gente diz que na Amazônia a impunidade mata e desmata, é porque mata a irmã Dorothy, mata líderes sindicais e desmata a floresta”, argumenta padre Edilberto Senna.

Mas os dois lados obviamente não se entendem. E a impunidade é a regra nesta região. Em primeiro lugar, toda a terra no oeste do Pará está sob disputa. O governo diz que as terras pertencem à União. Os fazendeiros retrucam: eles tentam regularizar a posse, mas o Incra não permite.

“Por um lado, você briga para que seja documentada, regularizada a situação fundiária. E não acontece. Aí, você vai trabalhar na clandestinidade”, justifica um fazendeiro.

E já que a terra não tem dono, quem chegou primeiro desmata e planta. O Ibama é o órgão federal que deveria monitorar o uso da terra. Oficialmente, tudo vai bem.

“Nós temos um corpo de servidores, que são os fiscais ambientais, que fazem essa fiscalização normal de rotina”, declara Huyghens Caetano, diretor do Ibama em Santarém.

Mas, em uma conversa informal, o diretor do Ibama em Santarém diz que a história é outra.
Fantástico: Eles estão cortando floresta primária?

Huyghens Caetano: Já cortaram muito aí, né?

O Ibama tem 88 servidores na cidade. Mas quantos efetivamente vão para o meio do mato?

Fantástico: Uns 20?

Huyghens Caetano: É, uns 20.

O diretor do Ibama, que deveria fiscalizar os fazendeiros da região, sente-se pressionado...
Fantástico: A plantação de soja é boa ou ruim para a região?

Huyghens Caetano: Eu queria me limitar mais ao lado florestal...

E os que plantam ilegalmente comemoram. “Enquanto o cara que quer entrar legal não consegue, o irregular está lá lucrando”, afirma Caetano.

“Eu não sei como, em uma região com tanto desmatamento, eu só tenho duas prisões das quais falar para você”, constrange-se o procurador da República Renato Gomes.

Um dos presos é José Donizetti Pires de Oliveira, um dos maiores proprietários de terra da região. Em março, uma blitz do Ibama encontrou as terras de Donizetti completamente devastadas. O fazendeiro foi multado.

Moradores da região, com o apoio do grupo ecológico Greenpeace, entraram nas plantações de Donizetti e abriram uma enorme faixa, com os dizeres “100% crime”.

Ele não levou o protesto com bom humor. Primeiro, tentou arrancar a faixa, com golpes de faca e de caminhonete, e depois partiu para cima dos manifestantes. Seu caso é igual a dezenas de outros.

Fantástico: O senhor não destruiu a floresta lá?

Donizetti: Não... Não é crime, desmatar não é crime.

O argumento de Donizetti e dos fazendeiros da região é simples: soja é igual a desenvolvimento. E desenvolvimento traz riqueza. Mas o dinheiro nunca chegou para os comunitários, pessoas que moram há anos na floresta.

“Isso só serve para eles, porque na verdade não fica nada no município, tudo é exportado”, denuncia Francisca da Costa, do sindicato dos trabalhadores rurais.

A comunidade de Jenipapo, a menos de uma hora de Santarém, está desaparecendo. A escola local já não funciona mais todos os dias, por falta de alunos.

“Essa comunidade tinha 68 famílias. Hoje tem 13. E essas 13 são pessoas que botaram o pé na parede e falaram: ‘Não vamos vender nossa terra, não vamos sair’. A pretensão deles é fazer tudo campo de soja”, conta o comunitário Hilton de Oliveira.

Basta olhar a região de cima, a 300 metros de altura, para ver o tamanho real do problema. Segundo imagens de satélite, em 2004 e 2005, 1,2 milhão de hectares de floresta viraram plantações de soja. Cada hectare tem mais ou menos o tamanho de um campo de futebol. Ou seja, em dois anos, a área cultivada pela soja passou de um milhão de campos de futebol. E para onde vai toda essa soja plantada no coração da floresta?

“A nossa soja está alimentando a vaca da Europa. A vaca da Europa é confinada e ela come soja brasileira”, alerta Paulo Adário, do Greenpeace.

Um porto em Santarém, no meio da floresta amazônica, é o lado mais visível do poder da soja no norte do Brasil. Ele foi construído por uma empresa norte-americana para facilitar o transporte de milhões de toneladas do produto para o mercado consumidor, a Europa. A própria existência do porto da Cargill é contestada na Justiça.

“A construção do porto se deu de forma juridicamente precária. Foi baseado em liminares”, adverte o procurador.

A guerra da Soja

E de liminar em liminar - sem um estudo de impacto ambiental federal - o porto de US$ 20 milhões ajudou a expandir a fronteira da soja da Amazônia.

Há duas semanas, ecologistas do Greenpeace tentaram bloquear um carregamento de soja, para chamar a atenção para a destruição da floresta. Os seguranças da empresa impediram a ação. A Polícia Federal foi chamada. Um agente sacou a arma e ameaçou os ativistas.

Logo depois, proprietários rurais invadiram o barco do Greenpeace e promoveram um quebra-quebra. Resultado da confusão: quatro feridos, 14 pessoas presas - todas manifestantes, nenhum fazendeiro.

Enquanto o governo apenas observa, a cidade se prepara para a próxima batalha. E a floresta? Em silêncio ela vai desaparecendo para sempre.

Para assistir:
http://gmc.globo.com/GMC/0,,2465-p-M479633,00.html

1 Comentários:

  • Infelizmente é preciso que uma emissora de cadeia nacional divulgue o problema da soja para que a população possa ter um ponto de vista real da questão, pois se fosse depender da imprensa local, incluisive da Tv Tapajós, filiada da Globo, a maioria da população estaria com a opinião deturpada

    Por Anonymous Anônimo, Às 1:17 PM  

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