Amazonia Viva Santarém

7/25/2006

Indústria da soja anuncia moratória no desmatamento da Amazônia depois de pressão de consumidores

São Paulo (SP), 24 de julho de 2006 – Após intensa campanha do Greenpeace, a indústria de grãos anunciou hoje, no Brasil, uma moratória de dois anos para a soja proveniente de novos desmatamentos no bioma Amazônia. A iniciativa mostra que o comércio internacional da soja foi abalado pela publicidade negativa da crise ambiental da maior floresta tropical do planeta. O Greenpeace reconhece que este é um passo importante, mas são as ações e não as palavras que poderão garantir um futuro justo e sustentável para a Amazônia.

A campanha do Greenpeace incluiu ações diretas no Brasil e na Europa e a publicação do relatório "Comendo a Amazônia", que detalha os impactos negativos da expansão da soja na floresta. Após a publicação do relatório, redes de supermercados e fast-foods, como o McDonald's, formaram uma aliança histórica com a organização ambientalista para exigir que a indústria da soja adote medidas para conter o desmatamento da Amazônia e trazer governança para a região.

Como resultado da pressão desta aliança, as multinacionais de commodities Cargill, ADM, Bunge, a francesa Dreyfus, e o grupo brasileiro Amaggi sentaram à mesa de negociações. Responsáveis pela maior parte do comércio de soja no Brasil, as traders discutiram critérios propostos pela aliança para fortalecer os esforços do governo brasileiro contra o desmatamento, além do cumprimento às leis brasileiras e proteção das áreas de florestas sobre grande pressão, terras indígenas e povos tradicionais.

Como resposta, as duas associações de grãos no Brasil – Abiove (Associação Brasileira da Indústria de Óleos Vegetais) e Anec (Associação Nacional dos Exportadores de Cereais) assinaram hoje um comunicado anunciando uma moratória de dois anos em novos desmatamentos para a soja. Um grupo de trabalho será estabelecido, formado por traders, produtores de soja, ONGs e governos federal e estaduais para apresentar um plano de ação que traga governança para a região.

O Greenpeace defende que a moratória deve durar o tempo necessário para que medidas sejam implementadas, ou a iniciativa anunciada hoje corre o risco de ser pouco mais do que um gesto simbólico. Nos últimos anos, mais de 1 milhão de hectares de florestas foram convertidos em campos de soja na Amazônia. Áreas desmatadas ilegalmente são alvo de violentos conflitos entre fazendeiros e comunidades locais. A floresta vem sendo destruída para dar lugar a campos de soja, que é exporta! da para a Europa para alimentar animais e atender a demanda internacional por proteína e carne barata.

"O papel das empresas de alimentos que vendem produtos relacionados diretamente com o desmatamento na Amazônia foi fundamental para trazer as grandes traders de soja para a mesa de negociações. Agora, o desafio é para que o setor promova os resultados reais para proteger a Amazônia da destruição", disse Gerd Leipold, diretor-executivo do Greenpeace Internacional.

A Amazônia não é apenas a região de maior biodiversidade no planeta, mas também desempenha papel fundamental no equilíbrio climático e na vida de milhares de pessoas que vivem na região. Por causa dos níveis alarmantes de destruição florestal provocada pelo plantio de grãos como a soja, uma área de florestas do tamanho de cinco campos de futebol tem sido destruída a cada minuto nos últimos dez anos.

O diretor-executivo do Greenpeace no Brasil, Frank Guggenheim, disse: "É um passo importante das traders de soja, como o grupo Amaggi e a Cargill, mas vamos continuar pressionando por medidas efetivas que garantam o futuro da Amazônia e de seus povos. Disputas pela terra e pelos recursos florestais não destruíram apenas grandes áreas de floresta mas também sacrificaram muitas vidas. A indústria de soja que opera na região deve agora ajudar a trazer governança e proteção ambiental para toda a região".

Ao exigir a proteção da Amazônia, o Greenpeace e as empresas de alimentos continuam exigindo de seus fornecedores soja não-transgênica.

Notas ao editor:

(1) O relatório "Comendo a Amazônia" do Greenpeace, de abril de 2006:
http://www.greenpeace.org.br/amazonia/pdf/amazonsoya.pdf
O sumário-executivo em português pode ser lido em:
http://www.greenpeace.org.br/amazonia/comendoamz_sumexec.pdf

2) Comunicado da Abiove: http://www.abiove.com.br/comunicado_br.html

3) Ian Bowles, presidente do departamento de Responsabilidade Social Corporativa da ASDA Wal-Mart, afirmou: "Queremos garantir que a origem dos produtos dos nossos fornecedores seja sustentável. A ASDA Wal-Mart acredita que a proteção das florestas primárias é de suma importância e apoiamos integralmente a iniciativa para barrar o desmatamento impulsionado pela soja na Amazônia. Para que esta iniciativa seja bem-sucedida, deveríamos procurar desenvolver também um mecanismo econômico para recompensar países que estão preparados para proteger as florestas primárias, como o bioma Amazônia. Isto significa uma solução de longo prazo para proteger a floresta da destruição sem barrar o desenvolvimento econômico de países como o Brasil".

4) Através de comunicado, a Waitrose afirmou: "Nós compartilhamos as preocupações do Greenpeace sobre exploração ilegal de madeira e práticas agrícolas insustentáveis que, na Amazônia, estão contribuindo com o desmatamento da floresta. A Waitrose leva a questão da origem responsável de seus produtos muito à sério e está satisfeita em trabalhar junto com o Greenpeace nesta questão".

5) Alpro: "Atividades sustentáveis e principalmente as pessoas e o planeta possuem muito valor para a Alpro. Por isso, a Alpro nunca comprou soja de áreas de floresta e se compromete a nunca comprar soja desta região no futuro. A origem da soja é assegurada por sistemas completos de rastreamento e segregação, desde as sementes até o produto final, além de uma relação direta de longo prazo com os fazendeiros locais. Este sistema de rastreamento é certificado por uma organização independente, Cert-ID.So. Por isso, nada mais óbvio para a Alpro do que apoiar integralmente a moratória para conter o desmatamento e, com nossa experiência, ajudar a definir os critérios deste processo".

6) A tradução do comunicado da Ritter Sport: "A Ritter Sport aplaude e apóia a iniciativa do Greepeace para uma moratória na produção de soja no bioma Amazônia. Há anos, o manejo sustentável é um dos valores da nossa empresa. A moratória é um passo importante para a implementação do bom manejo em ecossistemas altamente frágeis e nós acreditamos que apenas o bom manejo é aceitável para o futuro".

7) Mike Barry, presidente da Responsabilidade Empresaria da Marks & Spencer disse: "Nós aplaudimos os esforços do Greenpeace e estamos trabalhando ativamente com eles e com nossos fornecedores para encontrar opções mais sustentáveis para a soja, para melhor proteger o bioma Amazônia, para ajudar o desenvolvimento econômico no Brasil e permitir que continuemos entregando excelentes produtos para nosso clientes".

8) No Brasil, as empresas Nutrimental e Vitao Nutrihouse já aderiram ao plano de ação proposto pelo Greenpeace.
A Vitao Nutrihouse afirma: "A Vitao Nutrihouse é uma companhia que valoriza a saúde e o bem-estar de seus consumidores e, por esta razão, é contra a produção de soja dentro do bioma Amazônia. A empresa acredita que este tipo de atividade estimula desmatamento ilegal e a degradação do solo, que coloca em risco nossa biodiversidade e o equilíbrio ambiental.

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